Esquiço Autobiográfico

Já por várias vezes me têm questionado sobre a minha profissão. Normalmente e para evitar longas sessões de esclarecimentos, refiro um nome qualquer em inglês.

Quando me sobra o tempo e estou mais predisposto à especulação filosófica, digo a verdade:

- Sou anotador "in loco" de frases e ditos vários que acabam por se tornarem célebres e históricos com o passar dos anos.

Recebo em reposta a plenitude da estupefacção:

- Mas!?!

-Mas! ?! Mas o quê? Basta ter sorte, conhecimentos (como tudo na vida) o dom da ubiquidade e o da imortalidade. O segredo do teletransporte instantâneo é também ele de alguma utilidade à profissão. Acima de tudo, convém não esquecer mesmo é do caderninho e do respectivo lápis.

Sobre os dias que passam - parte 2

Sensação que poderia classificar como configurando uma melancolia amaldiçoada por uma dúvida persistente:

E se, afinal de contas, todo este mundo não passar de uma alucinação provocada por deus ou pelo diabo, ou, pior de tudo, por aqueles dois grandes sacanas que me perseguem há anos.

Sobre os dias que passam

Há milhares de anos atrás, Deus decidiu empreender um projecto em conjunto com a humanidade e com o mundo que criara.

Manifestou-se na zona que actualmente conhecemos como Médio Oriente, à época era a área na qual floresciam e se desenvolviam as civilizações "mais avançadas".

Houve notórios problemas de comunicação (por exemplo, os homens nem se entenderam quanto à nomenclatura a utilizar para denominar a divindade) e cedo o projecto começou a dar para o torto.

Apesar de tudo, Deus não desistiu, teimosamente, enviou uma vaga de profetas irados e numa última oportunidade, eivada de desespero, enviou o seu suposto filho.

Deu torto outra vez.

Depois, cansado, desistiu definitivamente da Humanidade.

Para nossa infelicidade, a humanidade não desiste dele.